71% da energia gerada no Brasil vem de hidrelétricas. Enquanto essa tecnologia é chamada de “energia limpa”, a construção e os efeitos dela podem ter implicações arriscadas para a sociedade e a natureza. Na semana passada um evento na Pontifícia Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro, mostrou a resistência da população local contra a construção de hidrelétricas no Rio Tapajós, no Pará.
O Rio Tapajós, um dos maiores afluentes do Rio Amazonas, tornou-se foco de políticas do governo federal que planeja várias obras de infraestrutura e a construção de sete hidrelétricas na região. Entre essas hidrelétricas está a Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós com uma capacidade de 8.040 megawatts e um custo estimado de R$ 30 bilhões. Na PUC foram apresentados dois documentários sobre a resistência das comunidades ribeirinhas e povos indígenas contra a construção da hidrelétrica, um deles produzido pela Agência Pública ("Um Rio em Disputa") e o outro pela Agência de Notícias ((o))eco, "Hidrelétricas do Tapajós"), seguido por um debate com a participação de Eduardo Pegurier, editor de ((o))eco e professor da PUC-Rio, e Camila Jericó-Daminello, bióloga e mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo, consultora da Conservation Strategy Fund (CSF-Brasil).
A megausina no Rio Tapajó será construída nas terras indígenas Sawré Muybu, assentada em solo sagrado para os povos Munduruku, que vivem às margens dos 850 quilômetros do Rio Tapajós e afluentes. Composto por mais de 15 mil pessoas, o Munduruku é um dos mais numerosos grupos étnicos do Brasil. A construção da hidrelétrica significa a expulsão do grupo de seu território. Boa parte da população local não concorda com a obra e essas preocupações foram mostradas durante a Caravana Agroecológica e Cultural de Santarém, em 2013, apoiada pela Fundação Heinrich Böll, que também é retratada no filme “Hidrelétrica do Tapajós”.
O problema não é só a construção da usina, mas também a falta de diálogo e informação do governo sobre o processo. “Parece um governo estrangeiro que estava lá, porque eles têm péssimas informações sobre o que está acontecendo”, comentou Eduardo Pegurier no debate. A ativista Maria Leusa Cosme Kaba do movimento Munduruku Iperêg Ayû conta no filme “Um Rio em Disputa”: “O governo sempre mente que a gente não quer dialogar com eles. É o governo que não quer dialogar”.
A usina de Belo Monte, na Amazônia, já se tornou um exemplo famoso sobre conflitos territoriais, mostrando que a população ribeirinha e indígena discorda da construção da hidrelétrica, que será a terceira maior do mundo. Mas não é só no Rio Amazonas que os moradores locais enfrentam as consequências relacionadas a perda de territórios, há também os efeitos para o meio ambiente e para as contas públicas já que o país está investindo pesado nas hidrelétricas. “Tiveram celebridades que apoiaram a causa de Belo Monte. Acho que ninguém importante foi para falar com as pessoas no rio Tapajós. Eu gostaria que não precisasse de uma celebridade para falar sobre questões de hidrelétricas na Amazônia, todo povo brasileiro tinha de se voltar para essa causa”, disse Camila.
Assista a entrevista com Camila Jericó-Daminello (CSF-Brasil) sobre a construção de hidrelétricas no Rio Tapajós:
Entrevista com Camila Jericó-Daminello sobre hidrelétricas no Rio Tapajós - Fundação Heinrich Böll Brasil
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